Ex-coroinha que denunciou padre por estupro será ouvido pela Justiça após 10 anos
28/10/2025
(Foto: Reprodução) Lucas diz que padre se aproximou quando ele atuava como coroinha na igreja em Guarujá (SP)
Arquivo Pessoal
Mais de dez anos após denunciar ter sido estuprado por um padre em Guarujá, no litoral de São Paulo, o ex-coroinha Lucas Grudzien prestará depoimento à Justiça. Segundo decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), também serão ouvidos o acusado e testemunhas do caso.
Os relatos foram solicitados pelas advogadas Dilene de Jesus Miranda e Andressa Fraga, que representam Lucas e os pais dele em um processo de indenização por danos morais.
“Foram muitos anos esperando que a Justiça reconhecesse a importância de esclarecer os fatos com profundidade”, celebrou Lucas, de 28 anos.
Atualmente, ele trabalha como líder de logística, mas, antigamente, tinha o sonho de ser padre. Lucas atuou como coroinha na adolescência e, aos 15 anos, diz que começou a ser violentado pelo padre Edson Felipe Monteiro Gonzalez.
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O jovem afirma ter sido estuprado por mais de um ano, até conseguir contar aos pais. Eles denunciaram o caso ao Ministério Público, mas o inquérito criminal foi arquivado porque, à época da denúncia, a idade de Lucas já não se enquadrava como estupro de vulnerável.
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Apesar do arquivamento do inquérito criminal, a família de Lucas entrou com uma ação na Justiça pedindo indenização por danos morais. O valor solicitado não foi revelado. “O fato de não haver a condenação no criminal não exclui a responsabilidade cível”, afirmou a advogada Dilene Miranda.
Ao g1, Dilene contou que os pais de Lucas também são parte do processo. “Na época em que estava sendo feita a primeira investigação dentro da igreja, um padre falou para eles [pais] que o Lucas ia ficar conhecido como ‘comida de padre’, então seria melhor não seguirem com a denúncia adiante”.
Decisão
A advogada contou que o processo começou em 2020 e segue sem conclusão. A 2ª Vara Cível da Comarca de Guarujá indeferiu diversos pedidos da defesa, que precisou recorrer.
O último recurso solicitou depoimentos da vítima, do acusado e de testemunhas, além de perícia psicológica em Lucas e Edson e a cópia do processo canônico. A 12ª Câmara de Direito Privado do TJ-SP deferiu o pedido no último dia 13.
“Os depoimentos pessoais serão tomados, o que fica expressamente determinado nesta oportunidade. Eles são imprescindíveis para que os fatos sejam devidamente apurados, considerada a matéria em discussão”, argumentou o relator.
Lucas Grudzien celebrou decisão de Justiça sobre processo que começou há mais de dez anos
Arquivo Pessoal
Ao g1, Lucas contou que a decisão da 12ª Câmara renovou as esperanças, pois influencia diretamente em provas fundamentais para a ação.
“O processo foi um caminho muito difícil, e eu sigo acreditando que visibilidade e transparência são fundamentais para evitar que outras pessoas passem pelo mesmo que eu passei”, afirmou.
Ainda na decisão, o relator deu um prazo de cinco dias para o procedimento canônico ser anexado aos autos do processo, sob pena de busca e apreensão.
“Isso foi uma vitória absurda porque a gente sabe o quanto é difícil obter esse processo canônico, os autos desse processo canônico”, afirmou a advogada Dilene Miranda.
Diocese de Santos
Em nota, a Diocese de Santos informou, por meio da Mitra Diocesana (representante legal da Diocese), que o padre Edson Felipe Monteiro Gonzalez pode exercer o ministério presbiteral.
O advogado que representa o padre no caso é da Cúria Diocesana. “Atualmente, o sacerdote colabora com atividades pastorais junto à Cúria Diocesana, sem estar provisionado para alguma paróquia específica. No âmbito civil, esclarecemos que o processo a que o presbítero está submetido segue em trâmite, sob segredo de justiça, ainda na fase probatória, sem decisão de mérito até o momento”.
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